sexta-feira, 25 de maio de 2007

Para Viver um Grande Amor


Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

http://www.orizamartins.com
Vinicius de Moraes



4 comentários:

Ester disse...

Somos todos viciados em ternura,um afago,um toque,uma palavra,um olhar.Uma paixão ou várias paixões,vários e muitos beijos e abraços.Pelo que sei de Vinícius,ele era louco por todos os seus amores,suas várias esposas,contudo disse certa feita que suportaria não sem dor a perda de todos os seus amores,mas morreria com a perda de um só de seus amigos...

Valnice Paiva disse...

Olá Marlene,

Continue descobrindo mais coisas para abrilhantar mais ainda o seu blog. Quero ver mais.

Parabéns,

Isolda Bargaso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isolda Bargaso disse...

Apaixonada, apaixonada!!!rsrsrrss
humm... essa poesia... é perfeita, aliás Vinicius é O cara!!!

Seu blog tem a sua kra Marlene!!!rsrsrs

quando abri a página senti q estava olhando vc!!!rsrs

é isso ae.. vamos fazer esses blogs acontecer!!!

bjsss